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domingo, 22 de abril de 2012

Mais de mês sem escrever, parei uma semana antes de passar 8 dias no Brasil no fim de Março. A primeira passagem desde que cheguei....foi rápida, carregada de uma grande ansiedade de rever amigos e a familia...e de querer ver tantas pessoas e fazer tantas coisas...que faltou qualidade em alguns encontros...mas a lição já foi aprendida...espero!

Na volta para o Haiti os dias estão sendo de muito trabalho...muito mesmo! E como queria manter um nível de postagens legais aqui no blog...fiquei pra trás...vou tentar voltar a postar mais coisas.

Tenho buscado "ver" as coisas aqui por um outro olhar, buscando não julgar através de comparações com os nosso moldes de sociedade....pois a relação dos haitianos com a natureza, as relações sociais, os valores, são diferentes dos nossos ,não podem ser simplismente confundidos como um povo primitivo ou atrasado, embora esse rótulo seja bastante nítido ao se deparar com as coisas mais simples no dia-a-dia.


Ando lendo o livro do Moçambicano Mia Couto "E se Obama Fosse Africano?", que traz em alguns dos textos justamente essa experiência que ele teve em seu trabalho como biólogo com algumas barreiras culturais....como o simples significado de uma palavra, ora ausente do vocabulário, do entendimento de algumas tribos de lá ora com significação que levam para outras relações (homem x natureza.


Num dos trabalhos que tive nesse mês, visitei mais de trinta casas, barracos, cabanas. Foi uma experiência diferente, que ajuda a compreender mais dessa cultura. Casas de gente simples, muitas sem divisórias...quase todas sem banheiro, luz elétrica e a grande maioria com a cozinha do lado de fora das casas...Cozinha?? Na verdade uma espécia de cabana com telhado palha, sem parades...onde preparam a comida quase no chão....usando carvão, água encanada?? Por esses lados aqui é luxo....desde as 5 da manhã você já encontra os pequenos carregando galões de água na cabeça!


Bom, voltei a escrever...
...uma boa semana...




" Em Rigor, não existem coisas belas. Para ser bela, a "coisa" deixa de ser coisa. Passa a ser entidade viva, passa a ser parte da vida. Porque ela só é bela enquanto produtora de sentimento de beleza. Só é bela enquanto nos fala e nos conduz secretamente para reavivar uma relação de parentesco com o universo." Mia Couto - E se Obama fosse Africano? - Página60


 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Port-Salut

Alguns dias sem escrever, não por falta de coisas vividas.
Talvez seja a euforia de chegar ao Brasil na minha primeira volta, pois a cada 60 dias aqui tenho o privilégio de gozar 8 dias no Brasil. Fora às aulas de francês que tenho duas vez na semana, estou me dedicando a aprender o "creole", ninguém nativa e mais falada no Haiti, seguida do francês.
O creole na verdade deriva bastante do francês...e é uma maneira mais fácil e honesta de conhecer melhor este povo.


Ontem acordei cedo, aquele domingão de sol, encontrei o Rui, um dos topógrafos que trabalham aqui, Moçambicano, me convidou para ir a praia com um pessoal, já estava de saída...tomei um café rápido e fomos buscar um grupo de médicos ( uma cubana, uma equatoriana e um paraguaio) que trabalham no hospital de Camp-Perrin, além deles ainda foram também o Juliano (Brasileiro),  o Alex (Ucraniano)e o Geraldito( Haitiano)...uma verdadeira miscelânea.

O destino era Port-Salut, uma cidade costeira ,cerca de 50km de Camp-Perrin.....é a segunda vez que vou a esta cidade, da primeira vez fiquei numa outra praia...bem pequena que fica perto de um hotel. Era quase carnaval,aproveitei pra registrar o festerê!


Ontemn no caminho de ida fomos conversando e tomando teréré , que o Elvis (paraguaio) havia preparado. Logo depois que passamos a cidade de Les Cayes, vimos uma cena bem forte na estrada...um corpo carbonizado dentre de pneus de carro....provavelmente deveria ser um ladrão - [Vólé - em criole]....que foi pego e feita a "justiça" ali mesmo!
Seguimos e curtimos uma praia pública...mesa na areia,aquele mar azul em frente já chamando para um mergulho...mas antes é sempre bom pedir a comida, pois demora....demora mesmo..(2h30), falei para pedirem igual ao de todos para mim e...fui pro mar!!! Não deu outra..o almoço veio fresco mesmo, pescado pouco tempo depois do pedido.


Peixe na brasa com bastante alho, uma banana amassada, frita numa massa de milho e uma salada de repolho apimentada..Estava ótimo!

Port Salut - primeira vez

Bom, essa semana tem mais. Agora é NON-STOP!


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quinta-feira, 1 de março de 2012

Povo de Camp-Perrin


Completei 1 mês em Camp-Perrin. A cidade que fica no sopé das montanhas, numa delas fica a gruta que fui dias atrás. A "cidade" com cerca de 35.000 habitantes, apesar de ter uma população considerável tem ares de uma vila pois a maioria das pessoas mora no campo, em pequenas comunidades e é da agricultura e da economia informal as principais fontes da economia local.

Nos últimos dias tenho andando mais pela cidade, que se resume praticamente numa grande avenida que corta ela sendo um cordão umbilical, onde se concenta a maior parte da casas, escolas e o pequeno comércio local. Logo pela manhã vê-se as crianças a caminho da escola,sempre todas uniformizadas como se fosse o primeiro dia das aulas, no meio da poeira branca que sobe do chão de pedra calcária.
Há um aqueduto que corta a cidade e tem as mais diversas finalidades, abastecimento para a população, para as plantações, recreação, lavanderia e banho. E todos os dias encontro principalmente as crianças se banhando no aqueduto, de dia , de tarde as vezes ao escurecer também.
Na entrada do nosso alojamento, que era um antigo hotel e foi reformado, passa o aqueduto. A foto abaixo foi tirada bem em frente ao entrada. A cor da água é assim mesmo, azul como o mar daqui. Tudo por conta das rochas calcárias que tomam conta das montanhas da ilha.

Outra cena corriqueira é encontrar as familias em frente as casas, muitas vezes vendendo sabonetes, xampu, bolacha, refrigerantes,  TORO (o energético do Haiti - faz alusão ao famoso "RedBull"), refrigerantes coloridos, etc.



VAI UM TORO AE? -------------- >




Há também as rodas de mulheres que passam horas fazendo tranças nos cabelos. Domingo último quando voltava da caverna reparei uma dessas rodas, perto do alojamento. Vi as mulheres escovando com cuidado os cabelos ao lado de uma espécie de "churrasqueira", mas na verdade é um braseiro, e o tal instrumento eu esqueci o nome, heheh, mas tem a função parecida com a da chapinha.





terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Dia de Caverna

Dia de Caverna.  Camp-Perrin 26.02


Domingao, o dia sagrado. Logo no café da manhã, encontro o Marujo( tradutor, já viajou mais de 42 portos no mundo todo no navio escola da marinha brasileira) me perguntou seu queria conhecer a "Gruta Kounoubwa"...eu que estava com a maior vontade de ir para praia, na hora topei!

A caverna fica a em Camp-Perrin, a uns 2 km do alojamento. O Wagner e o Gaúcho nos acompanharam também. Atravessamos o rio apé, que nessa época do ano está completamente seco, deve ter uns 80-90 metros de largura.

Um haitiano,o Jean Bernard, nos levou até a casa do guia local...por fim éramos em 8, 4 brasileiros e 4 haitianos. Subindo o morro, a vista vai ficando mais vasta, dava pra ver as montanhas ao fundo e do outro lado as planícies a caminho da praia. 20 minutos de caminahda e chegamos na entrada da gruta.


O início da descida até o primeiro salão era muito escorregadio, mas pelo menos era iluminada. Grandioso..."marciano". Após o terceiro salão, chegamos num outro com uma fenda que passava um feixe de luz, disse o guia que algumas pessoas fazem rapel, mas pareceu ser bem difícil a descida. No total foram uns 5 ambientes diferentes em quase duas horas,muito barro e suor....mas foi incrível.


A placa de entrada  dizia que antigamente a gruta foi usada em trabalhos místicos e que ela tinha cerca de 9 km, mas isso já foi desmentido. Ele tem cerca de 900m e uns 30 salões. O que se encontrou muito por lá foram pichações e muitas estalactites quebradas.


Au revoir

sábado, 25 de fevereiro de 2012


Jérémie

Jérémie é uma cidade litorânea situada no Sul do Haiti, seu acesso por terra se dá pela Route 7 ( Estrada Les Cayes-Jeremie), é a estrada que vim trabalhar, na recuperação e construção da mesma.
Durante muitos anos Jérémie ficou isolada, pois as condições da estrada era muito precária, sendo percorridos os 60km que ligam Jérémie a Camp-Perrin em 8h. Tal fato fez com que Jérémie ficasse um tanto esquecida, e imagine ser uma cidade esquecida num país já tão martirizado.

Lembro que os primeiros 5 dias no Haiti foram lá.Realmente tomei um belo choque cultural. Rotina de trabalho: Acordar ás 6h30, sair de casa às 7h, ai percorríamos 16 km , boa parte deles por uma estradinha de terra, onde me fazia ir parar na África dos anos 60 ou 70, apesar de nunca ter pisado no continente africano, mas acho que seja por ter visto tantas fotos dos meus pais, que viveram por lá quando jovens. Aí, entravamos numa estrada de terra principal, e chegávamos ao escritório base para tomar o café da manhã e começar a trabalhar.

Jérémie: Praia Central

O centro da cidade concentra a maior parte do comérico que é informal, tem uma delegacia, um banco (que por sinal abri uma conta, nessa agência, para receber meu salário),algumas vendimas, escolas. A praia do centro é um verdadeiro lixão a céu aberto, um pecado. Montanhas imensas de lixo. Uma cena interessante foi ver um garoto de uns 6 anos cagando nesta praia imunda, e junto dele, a uns 3 metros, um porco esperando o garoto terminar as suas necessidades para abocanhar o seu lanche.


Esse costume de fazer as necessidades a qualquer hora e qualquer lugar é bastante comum aqui. Não importa a idade, o sexo  e o lugar. Tal fato é um dos agravantes para a problemática do saneamento básico e de algumas doenças que são frequentes aqui.

Pena que nesses primeiros dias não tenha tirado fotos, ainda não estava com máquina fotográfica. Só viria começar a tirar fotos depois. Uma das coisas que me chamou a atenção, é a pelo modo "muito louco" que os haitianos dirigem. Motociclistas sem capacete, cheguei a ver 7 pessoas numa moto, tem os TAP-TAPs também (você encontra por todo o país), são antigos onibus escolares americanos (aqueles amarelos que vemos nos filmes americanos)que transportam de tudo, pessoas, cargas, animais vivos, Os Tap-taps são sempre bem coloridos, mas seus motoristas são animais no volante.


Tap-Tap

Sei, que há muito mais coisa pra falar de Jérémie, mas irei contando aos poucos. Quero tentar escrever mais sobre o primeiro mês até os dias de hoje, para que o blog se torne diário.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Primeiros contatos

A idéia do blog nasceu ainda no Brasil quando aceitei a proposta de trabalhar no Haiti e alguns amigos ajudaram a impulsionar tal realização. O objetivo é transmitir a experiência que estou tendo neste país através do olhar de um ser humano, sem rótulos ou títulos hierárquicos, a cultura, as condições de vida da população, o dia a dia, as cores, as belezas e tristezas desse país Caribenho, tão pouco conhecido.

Completei nesta semana 35 dias que cheguei ao Haiti. Lembro do dia 19/01/12, ainda no no avião, quando ele se aproximava do Aeroporto Internacional de Porto Príncipe, lá do alto eu tentava fazer uma primeira leitura das coisas, mas não é facil. Só mesmo quando se sai da área de desembarque, e você atravessa um imenso corredor com cobertura metálica, a dois metros de um alambrado que separa a rua. E no fim deste corredor você é assediado por dezenas de taxistas. No caso havia um motorista a minha espera, com uma placa com o nome da Empresa, logo eu que nunca imaginei passar por esta situação.
Seguimos para o escritório, não muito longe dali, mas logo na saída do aeroporto ( que se encontra em recosntrução, após os terremotos de 2010), já foi possivel ver muita miséria, motanhas de lixo nas esquinas, onde porcos dividiam espaço com cães à procura de restos de comida, algumas moradias ( pequenas barracas feitas de lona de várias entidades filantrópicas que atuam no país), um trânsito sem qualquer organização,
Seguimos para o escritório, não muito longe dali, mas logo na saída do aeroporto ( que se encontra em recosntrução, após os terremotos de 2010), já foi possivel ver muita miséria, motanhas de lixos nas esquinas, onde porcos dividiam espaço com cães à procura de restos de comida, algumas moradias (barracas de várias entidades filantrópicas) circunvizinhas, um trânsito sem qualquer organização....pronto, essas cenas se tornariam corriqueiras a partir de então.

Tive a sorte de ir para a cidade de Jérémie de avião, já que um dos diretores estava seguindo para lá.Depois de 50 minutos descemos no Aeroporto de Les Cayes, para deixar alguns equipamentos para o pessoal que fica na cidade de Camp-Perrin. Seguimos, e mais 20 minutos chegamos em Jérémie.